Desde o colectivo cultural Buril temos o prazer de apresentar-vos O Entroido na memoria, documentário áudio-visual realizado polo Buril em 2001. Com esta re-ediçom em formato digital, queremos recuperar este documento com a vontade de fazê-lo chegar aos vizinhos e vizinhas de Burela e a todas as pessoas interessadas nesta temática. Para além do valor afectivo e sentimental que com certeza terá para muitos burelaos e burelás, O Entroido na memoria constitui um documento de grande interesse tanto para o estudo da história local como para a etnografia e a historiografia galegas.
O Entroido na memoria nom é só um retrato do entroido da Burela de finais do século XX, mas também umha viagem ao entroido do passado, contado de viva voz polos nossos velhos e velhas. Aquel entroido popular, espontáneo, esmorgueiro e retranqueiro. O “entrudo chocalheiro” -como cantou o Zeca-, o dos excessos, da burla, do escárnio e do mundo ao revés. Em definitiva, o entroido tradicional, que o Buril quijo recuperar nos anos 80 e 90 do passado século, para que umha das manifestaçons mais genuínas da cultura galega nom caisse no esquecimento nem se visse desvirtuada polas alienantes modas do momento.
O entroido aldeao de outrora, o das carautas e disfarces artesanais a percorrer casas e corredoiras, tomava agora, da mao do Buril, forma de gincana polas ruas e bares de Burela, na que se realizavam as provas mais bizarras e extravagantes que podamos imaginar. Também se recuperavam tradiçons locais como a de “correr a auga”, que em palavras de Ricardo Pena, primeiro cronista oficial da vila, é umha das tradiçons mais ancestrais que partilham os povos marinheiros. Ao berro de “auga aquí”, @s participantes alertavam da sua presença e faziam um chamamento popular à molheira colectiva, estabelecendo umha nova ordem social, na que nom havia privilégios de género, classe social, ou de calquera outro tipo.
Mas a tradiçom também se renovava, e apareciam as comparsas que adaptavam a mofa e a burla populares à crítica social e política mais azeda. Deste jeito, o desfile de comparsas, convertía-se num foro público no que ridiculizar os poderes político, económico ou religioso. O entroido finalizava com o enterro da sardinha, no que a “corporaçom municipal”, eleita por legítima votaçom popular, acompanhava o defunto polas ruas de Burela. A comitiva completavam-na o crego, os gaiteiros e um grande número de vizinhos e vizinhas que ao som do infatigável pranto das choroas, desfilavam a passo lento qual Santa Companha para darem a última despedida ao entroido.
Assim é pois o entroido que podemos ver neste documentário e no que o Buril tanto colaborou. As pessoas que hoje conformamos o colectivo, queremos fazer o nosso humilde contributo ao conhecimento da nossa história recente e à consolidaçom da nossa memória colectiva, lembrando aquelas mulheres e aqueles homens que hai quase 30 anos sairom à rua para berrar alto e forte: “Auga aquí!”
Fevereiro de 2012.
Junta Regedora do Colectivo Cultural BURIL
Sem comentários:
Enviar um comentário